As primeiras relações materno-infantis


Oi galera que lê o meu blog, tudo bom com vocês?Comigo está tudo ótimo. Donald Woods Winnicott nasceu em 1896 numa família rica de comerciantes em Plymouth, na Inglaterra. Ao entrar na faculdade de Medicina, foi convocado para servir como enfermeiro na Primeira Guerra Mundial, na qual fez as primeiras observações sobre o comportamento humano em situações traumáticas. Especializou-se em pediatria, trabalhando 40 anos no Hospital Infantil Paddington. Paralelamente, preparou-se para ser psicanalista. Trabalhou como consultor psiquiátrico do governo, tratando de crianças afastadas dos pais na Segunda Guerra Mundial. Em 1949, separou-se da primeira mulher, a artista plástica Alice Taylor. Dois anos depois, casou-se com Clare Britton, psicanalista e organizadora dos trabalhos do marido. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e morreu em Londres, em 1971. As primeiras relações materno-infantis, vão se constituir desde o nascimento do bebê até os primeiros anos de vida. É uma relação na qual o par mãe-bebê se comunicará pela relação recíproca que foi desenvolvida desde a concepção, passando pelo desenvolvimento do bebê em útero, até o instante do nascimento. A partir daí, uma relação de confiança e mutualidade vai se estabelecendo, caso tudo corra bem. O bebê reconhecerá a voz da mãe e o calor do seu corpo, assim como já vivenciava tudo o que se passava na interioridade do corpo materno. A mãe, por sua vez, desenvolverá uma relação simbiótica com seu bebê e estabelecerá, com ele, uma comunicação pautada em experiências não verbais, oferecendo-se como o primeiro ambiente do qual o bebê precisa para se desenvolver emocionalmente. É essa relação que constituirá o psiquismo do bebê, seu mundo interno, seu interior e seu self.Os conceitos de verdadeiro e falso self (em inglês, palavra que se refere à própria pessoa) são um bom exemplo. "O self se forma com base nas experiências que o bebê acumula", diz o psicanalista Davy Bogomoletz, de São Paulo. "É aquilo que, embora indefinível, faz o indivíduo sentir que ele é único." A relação com a mãe leva o bebê a administrar a própria espontaneidade e as expectativas externas. "Se a mãe aceitar as manifestações do bebê - como a fome, o desconforto, o prazer e a vontade -, em vez de impor o que acredita ser o certo, o bebê vai acumulando experiências nas quais ele é sempre o sujeito, e o self que se forma pode então ser considerado verdadeiro", explica Bogomoletz. Porém o self construído em torno da vontade alheia é o que Winnicott chama de falso e que priva o indivíduo de liberdade e de criatividade.Para compreendermos as origens do indivíduo, Winnicott ressalta que devemos primeiro investigar quando os bebês foram concebidos mentalmente para que depois possamos investigar quando eles foram concebidos biológica ou fisicamente. Ou seja, antes que um bebê exista, é necessário que ele tenha sido desejado ou, no mínimo, criado na fantasia interna de um dos pais. Em seguida, é necessário que passemos a verificar como e quando esse bebê foi concebido como um "ato físico" entre o casal, mesmo que ele seja fruto de um "pequeno acidente" entre os pais. O momento seguinte é a provisão do ambiente corporal materno e o desenvolvimento do próprio feto no tocante à qualidade e vitalidade dos órgãos, com ênfase na saúde do cérebro como órgão capaz de registrar experiências e acumular dados saudáveis da provisão ambiental para, a partir daí, encontrarmos os sinais de vida e a viabilidade de o bebê nascer no tempo e na hora certa: nem prematuro, nem pós-maduro. Com o desenvolvimento do cérebro enquanto órgão em funcionamento, inicia-se "a estocagem de experiências; as memórias corporais, que são pessoais, começam a juntar-se para formar um novo ser humano. Existem boas evidências de que os movimentos do corpo na vida intrauterina são significativos, e é plausível que, de modo silencioso, a quietude vivenciada naquele período também o seja". Por fim, advém o nascimento, que é o momento em que a mãe e o bebê vão viver juntos sua primeira experiência a dois como uma só unidade.Do ponto de vista do bebê, a mudança do estado intrauterino para o estado de recém-nascido só pode ser provocada pelo processo maturacional e biológico, os quais preparam o bebê para que as mudanças sejam efetuadas na sua vida. Esse processo só poderá ser afetado caso haja algum adiamento ou antecipação do nascimento. Se o nascimento for experienciado como traumático, o bebê e, consequentemente, a mãe terão problemas tanto no curso do desenvolvimento quanto na relação materno-infantil, ameaçando a "continuidade da existência" de ambos. É importante apontar para a dimensão biológica e vitalista dos argumentos do autor: o relacionamento mãe-bebê só será satisfatório, após o nascimento, caso a mãe tenha condições favoráveis durante a gestação e uma capacidade biológica inata para gerar e sustentar um bebê vivo e íntegro, correspondendo assim à sua capacidade psicológica de lidar com esse bebê após o nascimento.Por outro lado, muitas das características do bebê também já são conhecidas pela mãe a partir dos movimentos desenvolvidos em seu ventre. Ou seja, no momento do nascimento já houve uma grande soma de experiências, tanto agradáveis quanto desagradáveis, partilhadas por ambos. Até lá o futuro bebê compartilhou o gosto das refeições da mãe, seu sangue já fluiu com maior rapidez quando comeu ou bebeu um café, um chocolate quente ou um chá ou até mesmo quando a mãe teve de acelerar os passos para executar alguma tarefa ou manter uma relação sexual. Sentimentos e sensações tais como ansiedade, tristeza, agitação, raiva, entre outras, também serão passadas para o bebê pelos laços que os unem. Se a mãe é bastante agitada, ele provavelmente se acostumará com os seus movimentos tanto no útero como fora dele e tem boas chances de ser um bebê agitado. Se a mãe é mais tranquila, o futuro bebê conhecerá a paz e poderá esperar por um colo tranquilo e aconchegante. Até esse momento, é bem possível que o bebê conheça melhor a mãe do que ela a ele e, por consequência, até a mãe poder vê-lo, colocá-lo nos braços e acolhê-lo em seu peito, muita troca de experiências já ocorreu entre a dupla.O primeiro contato após o nascimento é de extrema importância para a mãe e para o bebê. Para o que hoje profissionais da saúde, tais como obstetras, pediatras, enfermeiros ou até mesmo parteiras já admitem como prática, Winnicott não se cansou de chamar a atenção: por um lado, o quão valioso é para a mãe ver e sentir o seu bebê contra o seu corpo imediatamente após o nascimento, e por outro, o quão necessário é para o bebê entrar em contato com o corpo materno, visto que a sensibilidade da sua pele está muito aguçada. O bebê, assim, nasce totalmente não integrado, ou seja, sem nenhuma experiência de contato com a realidade do mundo externo. Dito de outro modo, ele nasce sem o sentido da sua própria corporeidade, sem as dimensões de tempo e espaço, sem conseguir reunir a experiência que viveu em útero com a experiência que passará a viver com a gravidade do seu corpo empurrando-o para baixo e levando-o para o centro do mundo quando não estiver em contato com a pele e o corpo de outra pessoa. As mãos que seguram e sustentam o corpo nu do bebê no momento exato do nascimento são tão importantes quanto a própria experiência de nascimento ou o contato que ele passará a ter com o corpo da mãe a partir de então.Um bom exemplo disso são os vídeos da enfermeira francesa Sonia Rochel, dentre os quais se destaca o mais famoso deles, Thalasso Bain Baby. O vídeo mostra sua técnica de relaxamento criada para reativar a memória corporal do bebê, de até três meses de idade, provavelmente daquilo que foi vivido em útero. Sua técnica consiste em mergulhar inteiramente o corpo do bebê em uma cuba com água a não mais do que 27 graus, deixando, às vezes, apenas seus lábios fora d’água. O bebê começa desperto e aos poucos vai sendo embalado pela fala da enfermeira, pela forma com que ela toca todo o seu corpo, pela sensação da água morna em sua pele, de modo a provocar-lhe relaxamento e sono. O banho não dura mais do que quinze minutos. Na sequência, Sonia retira o bebê da cuba, enrola-o numa toalha, enxuga-o e faz uma massagem em toda a extensão do seu corpo, dirigindo-lhe palavras afetuosas, afirmando o quanto ele é querido e amado por sua mãe. A massagem, por sua vez, produz uma excitação autoerótica no bebê, indicada pela introdução do polegar na boca1. Não é por acaso o fato de que, em francês, "mar" e "mãe" apresentam-se com a mesma sonoridade: "la mer" e "la mère", o que nos leva a afirmar e depreender que o mar (la mer) no qual o bebê se banha é constituído pelo corpo da mãe (la mère) que se oferece como um continente de acolhimento às necessidades físicas, corporais e emocionais do bebê. Há todo um conjunto de experiências pelas quais o bebê passa em relação ao cuidado que pode ser exposto do seguinte modo: a mãe que o leva ao seio para amamentá-lo; a mãe que põe o bebê após a amamentação para liberação dos gases; a troca de roupas no cuidado e higiene com o bebê; a hora do banho e a forma como a mãe toca o corpo nu do bebê em toda a sua superfície; o enxugar e vestir o corpo do bebê; o momento em que o pai ou a mãe embalam o bebê para pô-lo para dormir, ou seja, uma gama de experiências expostas diretamente a partir do cuidado ambiental e expressa através do processo de relação materno-infantil que fazem com que a mãe e o bebê tenham uma experiência única vivida a dois e na total ausência de comunicação verbal.Desde que a psicologia do desenvolvimento ou a psicanálise passaram a estudar a relação mãe-bebê, desenvolvimentistas e analistas dispõem de métodos diferentes para alcançarem seus objetivos. Na medida em que só era possível chegar a algumas hipóteses a partir da observação direta do bebê com suas mães após o nascimento, a psicologia do desenvolvimento se interessava pelos aspectos cognitivos e de aprendizagem da vida infantil, enquanto a psicanálise buscava, na vida primitiva, uma relação com o inconsciente. Mas qual o melhor cenário para que essas observações fossem realizadas? A vida cotidiana do bebê em sua própria casa e em seu próprio meio ambiente? Seu comportamento a partir de experiências controladas em laboratório? A instituição escolar ou a partir das consultas pediátricas de rotina? Para Winnicott, não era essa a questão que estava posta, e sim encontrar um sentido para o olhar do observador na relação materno-infantil, ou então submeter ao ônus da prova às rememorações verbais com pacientes regredidos no transcorrer do tratamento analítico.Ora, sem acesso ao que acontecia no ventre materno por falta de recursos tecnológicos, o bebê se convertia em um verdadeiro segredo a ser descoberto na hora do parto pela mãe, pelo pai e suas famílias. Até o início da segunda metade do século passado, em cada gravidez não era possível saber se o bebê seria menino ou menina, se teria saúde ou se nasceria com algum problema ou ainda se o processo maturacional do feto chegaria ao fim no tempo certo ou seria antecipado.Tivemos de esperar anos para que as hipóteses psicanalíticas sobre a vida pré e pós-natal pudessem ser confirmadas a partir do advento da ultrassonografia, que corroborou muitas dessas especulações, definindo o que entendemos hoje como o início da vida primitiva dos bebês.Foi graças à ultrassonografia que algumas teses psicanalíticas puderam ser comprovadas a partir de imagens geradas pela tecnologia médica. O que essa tecnologia de imagem revelou foi a individualidade do feto, por um lado, e o modo como ele se relacionava com a mãe, por outro, fazendo com que eles estabelecessem uma comunicação, ainda que simbiótica e no nível pré-verbal. Muitas dessas interpretações e imagens faziam com que os pais, ou até mesmo os obstetras "antropomorfizassem" ou "adultomorfizassem" o feto, atribuindo-lhes sentimentos, intenções e volições, ressaltando ainda mais o narcisismo dos pais, o qual se evidencia em frases tais como "ele é muito nervoso", "ela será uma bailarina", "ele (ou ela) tem a cara do pai (ou da mãe)", "este aqui vai ser jogador de futebol", "como ela é pensativa!", "ele vai ter um bom caráter", "ele é preguiçoso", entre outras. O que ficou mais evidente, principalmente em fetos mais desenvolvidos a partir de seis meses de gestação, foi a necessidade de reconhecê-los como pessoas ou sujeitos humanos, pois "os bebês são humanos desde o início".As observações de bebês para Winnicott já era uma realidade desde o início dos anos quarenta, quando passou a examiná-los em suas consultas pediátricas junto às mães. Nessas consultas, o pediatra inglês utilizava-se de uma brincadeira com o bebê que consistia em analisar seu interesse por uma espátula e como isso poderia ser interpretado na relação materno-infantil, dando-lhe pistas acerca do seu desenvolvimento emocional. A criança podia ver naquele objeto algo do seu interesse ou apenas largá-lo após algum momento sem estabelecer relação alguma com objetos internos na figura do pediatra ou da sua mãe.Trabalhando como médico com crianças separadas da família em conseqüência da Segunda Guerra Mundial, o psicanalista inglês Donald Winnicott encontrou um interessante campo de estudo que lhe permitiu perceber etapas fundamentais do desenvolvimento da pessoa. Foi assim que constatou, por exemplo, a importância do brincar e dos primeiros anos de vida na construção da identidade pessoal. As conclusões a que ele chegou são preciosas para o trabalho dos educadores.Boa parte dos conceitos de Winnicott se refere ao "desenvolvimento emocional primitivo", cujos efeitos, segundo ele, são de importância crucial para o indivíduo por se estenderem para além da infância. Muitos problemas da fase adulta estariam vinculados a disfunções ocorridas entre a criança e o "ambiente", representado geralmente pela mãe.Uma das frases famosas de Winnicott é "não existe essa coisa chamada bebê", querendo dizer que não há criança sem uma mãe (que não precisa ser necessariamente a que deu à luz). Vem daí a idéia da "mãe suficientemente boa", aquela cuja percepção - consciente ou inconsciente - das necessidades do bebê a leva a responder adequadamente aos diferentes estágios do desenvolvimento dele. Isso faz com que se crie um ambiente - nomeado por Winnicott de holding (cuja melhor tradução para o português, segundo Bogomoletz, seria "colo") - propício a um processo de formação de um ser humano independente. "O holding é o somatório de aconchego, percepção, proteção e alegria fornecidos pela mãe", diz ele. Começa como algo vital, como o oxigênio e a alimentação, e se dilui conforme o bebê cresce."Os educadores devem fornecer holding no ambiente escolar", segundo Bogomoletz. Isso significa tratar cada aluno como ele precisa. O termo "inclusão", se for levado a sério, indica uma atitude de holding. O acolhimento adequado pode, portanto, ajudar uma criança regida por um self falso - geralmente boazinha e obediente - a se tornar mais espontânea. "No entanto, é preciso que a escola aceite as temporadas de 'mau comportamento'." Trata-se de adotar sempre uma postura tolerante e criar condições para que a criança desfrute de liberdade. Nada mais importante, nesse sentido, do que o papel da brincadeira - fundamental para Winnicott, não apenas na infância, por misturar e conciliar o manejo do mundo objetivo e a imaginação. "Brincar pressupõe segurança e criatividade", diz Bogomoletz. "Crianças com problemas emocionais graves não brincam, pois não conseguem ser criativas."O cobertorzinho O movimento da psique entre o mundo das coisas e as fabricações da mente é uma atividade "transicional", adjetivo fundamental na obra de Winnicott. O conceito mais conhecido é o de "objeto transicional", representado classicamente pelo cobertorzinho a que muitos pequenos se agarram numa determinada fase. "Esse objeto é ao mesmo tempo uma coisa objetiva - existe num mundo compartilhado - e subjetiva - para seu dono, ele faz parte de uma fantasia, possui vida própria", explica Bogomoletz. Dessa forma, o objeto transicional prolonga o período em que o bebê se acredita onipotente, enquanto ele substitui essa crença com a aceitação de uma realidade sobre a qual não tem controle nem pode modificar por meio da imaginação. O bebê se vê com poderes mágicos e, com o tempo, percebe a ilusão. Mas, com as brincadeiras e o aprendizado do mundo, a criança, o adolescente e o adulto retêm o poder de criar e adaptam-se às possibilidades reais. "A fantasia é realmente a marca do humano", diz Bogomoletz. "Já a objetividade é uma habilidade que se aprende, como uma segunda língua.""A escola tem a obrigação de ajudar a criança a completar essa transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito de devanear, imaginar, brincar", prossegue o psicanalista. O respeito que os pequenos terão pela objetividade será incorporado por eles, jamais imposto de fora para dentro. Quando livres para criar, eles, segundo Winnicott, vêem no estudo um modo de exercitar o poder de invenção. Se, no entanto, o ambiente escolar não for aberto à brincadeira, "os recreios serão tanto mais selvagens quanto as aulas forem mais opressoras ou supostamente sérias".

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Abraços,

Rebeca Lucena Dantas

Pedagoga

Discente do Curso de Pedagogia-UECE/CE

 

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