Célestin Freinet foi um pedagogo e pedagogista anarquista francês, uma importante referência da pedagogia de sua época, cujas propostas continuam a ter grande ressonância na educação dos dias atuais.Freinet se identificava com a corrente da Escola Nova, anti-conservadora, e protagonizou as chamadas Escolas Democráticas. Segundo ele, além das técnicas pedagógicas, o ambiente político e social ao redor da escola não devia ser ignorado pelo educador. Como para Freinet a pedagogia comporta a preocupação com a formação de um ser social que atua no presente, o professor deve mesclar seu trabalho com a vida em comunidade, criando as associações, os conselhos, eleições, enfim as várias formas de participação e colaboração de tudo, na formação do aluno, direcionar o movimento pedagógico em defesa da fraternidade, respeito e crescimento de uma sociedade cooperativa e feliz. Para Freinet, "a democracia de amanhã é preparada na democracia da escola". Freinet desenvolveu o seu método pedagógico usando o mínimo de materiais didáticos, fruto do seu trabalho em regiões pobres da França. Para Freinet, a educação deveria proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real. Sua carreira docente teve início construindo os princípios educativos de sua prática. Ele propunha uma mudança da escola, pois a considerava teórica e portanto desligada da vida.Suas propostas de ensino estão baseadas em investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía o seu conhecimento. Através da observação constante ele percebia onde e quando tinha que intervir e como despertar a vontade de aprender do aluno. De acordo com Freinet, a aprendizagem através da experiência seria mais eficaz, porque se o aluno fizer um experimento e isso der certo, repeti-lo-á e avançará no processo; porém, não avançará sozinho, pois precisará da cooperação do professor.Na proposta pedagógica de Freinet,a interação professor-aluno é essencial para a aprendizagem. Estar em contato com a realidade em que vive o aluno é fundamental. As práticas atuais de jornal escolar, troca de correspondência, trabalhos em grupo, aula-passeio são ideias defendidas e aplicadas por Freinet desde a década de 1920.Há princípios no saber Pedagógico que Freinet considerava invariáveis, ou seja, independentemente do local ou período histórico, certos pressupostos deveriam sempre ser levados em conta na prática educativa. Desta forma, postulou as chamadas "Invariantes Pedagógicas", consideradas como pilares de sua proposta pedagógica.Desde a origem, o movimento sempre se manteve aberto a todas as experiências pedagógicas através de documentos, revistas, circulares, cartas e boletins. Freinet buscava formas alternativas de ensino, pois não conseguia se adaptar a forma tradicional, fazia também relatórios diários de cada criança. Ao que se refere às cartilhas, ele questiona seu valor, pois os conteúdos nada tinham a ver com a realidade da criança e, portanto, não traziam nenhum estímulo à aprendizagem da leitura. Freinet dava muita importância ao trabalho, pois este deveria ser o centro de toda a atividade escolar, enfatizando-o como forma do ser humano ascender, exercer seu poder.Para Freinet, o aprender deveria passar pela experiência de vida e isso só é possível pela ação, através do trabalho. O trabalho desenvolve o pensamento, o pensamento lógico e inteligente que se faz a partir de preocupações materiais, sendo que esta, é um degrau para abstração. Freinet acreditava que no e pelo trabalho o ser humano se exprime e se realiza eficazmente. Lembrando-se que, quando o autor exalta o trabalho, não está referindo-se forçosamente ao trabalho manual, pois para ele o trabalho engloba toda a pesquisa, documentação e experimentação.Em relação à intervenção do professor, só se dava para organizar o trabalho, sem precisar de imposições ou ameaças. Para ele, a disciplina escolar se resume a executar uma atividade que envolva e torne a criança automaticamente disciplinada.Outro aspecto importante para Freinet é a liberdade, relativa e não desvinculada da vida e do trabalho de cada um. Para ele, a liberdade é a possibilidade de o ser humano vencer obstáculos. Freinet buscou técnicas pedagógicas que pudessem envolver todas as crianças no processo de aprendizagem, independentemente da diferença de caráter, inteligência ou meio social (lembrando-se mais uma vez que ele afirmava que o conteúdo estudado no meio escolar deveria estar relacionado às condições reais de seus alunos).Ao estudar o problema da educação, ele propunha que ao mesmo tempo em que o professor almejasse a escola ideal, criativa e libertadora, e que deveria também estudar as condições concretas que estariam impedindo a sua realização.A técnicas da pedagogia freinetiana respeitam a livre expressão, sendo esta uma postura pedagógica que torna a escola “um verdadeiro lugar de vida e produção, onde se faz a aprendizagem da democracia pela participação cooperativa”. Dessa forma, este modo de agir e pensar é acompanhado de responsabilidade, pois a criança exerce a liberdade e também arca com as possíveis consequências, como as frustrações e limitações.A origem de todas as técnicas é a Cooperativa Escolar e a partir dela forma-se uma unidade, ela acompanha toda a práxis freinetiana. A cooperativa acontece no dia a dia da classe, costumam acontecer em formato de reuniões semanais, com um relator e um coordenador, ambos alunos. O professor também vota, tendo seu voto o mesmo peso do voto dos alunos. Nas reuniões são discutidas todas questões que envolvem a vida escolar coletiva da classe.Sampaio afirma: “Não haverá necessidade de uma cooperativa, se a disciplina é autoritária e paternalista, com o professor decidindo tudo. Se começarmos a dando a importância devida aos interesses das crianças, a cooperativa se tornará uma necessidade".
As técnicas se feitas separadamente ou fora do contexto da cooperativa escolar não podem ser consideradas pedagogia Freinet. Devemos entende-las como parte de uma totalidade. As técnicas são:
- A Aula-Passeio: aulas de campo, voltadas para os interesses do estudantes
- A Auto-avaliação: fichas criadas por Freinet, preenchidas pelos alunos, como forma de registrar a própria aprendizagem
- A Auto-correção: modalidade de correção de textos feita pelos próprios autores, no caso os alunos, sob a orientação do educador
- A Correspondência Interescolar: atividade largamente utilizada por Freinet, na qual os alunos se comunicavam com outros estudantes de escolas diferentes
- O Fichário de consulta: fichas criadas por alunos e professores, para suprir as lacunas deixadas pelos livros didáticos convencionais
- A Imprensa escolar: os textos escritos pelos alunos tinham uma função social real, já que não serviam meramente como forma avaliativa, já que eram publicados e lidos pelos colegas
- O Livro da vida: caderno no qual os alunos registram suas impressões, sentimentos, pensamentos em formas variadas, o qual fica como um registro de todo o ano escolar de cada classe
- O Plano de trabalho: atividade realizada em pequenos grupos que sob a orientação do educador, com base em um dado tema, desenvolvem um plano a ser realizado num certo intervalo de tempo
- O Texto Livre: tipo de texto em que o aluno não é obrigado a escrever como nas escolas tradicionais. É livre em formato e em tema. Relaciona-se com a técnica da Imprensa Escolar, Livro da vida e Correspondência Interescolar.
- Cantos de atividades: divisões no espaço físico com diferentes propostas de trabalhos, onde os alunos possam executar de maneira autônoma, socializando com outros alunos. “Este tipo de organização possibilita a formação de grupos menores e assim há um aprofundamento maior dos contatos. Sem a interferência direta dos adultos, a sociabilização das crianças ganha um ritmo próprio.” (Sampaio, 1994)
- O Jornal Mural: Mural feito pelas crianças em criação coletiva, fica em exposição na escola e conta com os fatos significativos para os alunos, acontecimentos, exposição de trabalhos e projetos.
- Estudo do meio: Freinet levava seus alunos para fora de sala de aula para conhecerem o entorno, as pessoas, a cultura local e para descobrir novos interesses que surgissem no caminho. A aula passeio faz parte de uma proposta de estudo do meio que envolve muitas outras ações pedagógicas.
Celestin Freinet é um autor pouco utilizado nas academias por não ser considerado um autor científico. A pedagogia freinetiana é uma ciência, no sentido de viver a educação, ser fruto das relações entre a criança e a escola, criança com outra criança entre outras relações vivenciadas no âmbito escolar .Essa ciência de Freinet vem da prática, e como não é explicitadas em teorias e artigos, não são muito utilizadas.De acordo com Freinet (1964), o sistema de ensino, nos dias atuais, está totalmente direcionado para a formação de pessoas aptas para o mercado de trabalho tendo como foco a empregabilidade. Como consequência disso, a essência da criança como sujeito de sua formação está sendo deixada em segundo plano. Os professores do ensino tradicional são conhecidos por apenas repassar o conhecimento aos alunos, sem que haja uma troca entre eles. Criticando esse sistema, o autor afirma que, as crianças são induzidas a seguir os caminhos que seus pais trilharam, facilitando a adaptação e a manutenção do status quo.
Abraços,
Rebeca Lucena Dantas
Pedagoga
Discente do Curso de Pedagogia-UECE/CE
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