Uma das originalidades dessa teoria na época em que foi feita foi justamente a tentativa de ver a criança de modo mais integrado e de fato parece que hoje em dia a complexidade dos processos educativos e mesmo os vários estudos da criança apontam para a necessidade de não dissociar campos que são indissociáveis, por exemplo, como a afetividade e a inteligência.

O teórico Henri Wallon nasceu na França em 1879. Viveu toda a sua vida em Paris. Antes de chegar a Psicologia e a Educação passou pela Filosofia e pela Medicina. Wallon viveu num período marcado por muita instabilidade social e turbulência política, acontecimentos como as duas guerras mundiais, o avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias na África atingiram profundamente a França. Participou ativamente de movimentos contra o Fascismo e da resistência a ocupação nazista. Atuou como médico em instituições psiquiátricas até 1931, atendendo crianças com deficiências neurológicas e distúrbios de comportamento. Ele via à escola como um contexto privilegiado para o estudo da criança. Acreditava que a Pedagogia oferecia campo de observação à Psicologia e questões para investigação. A Psicologia por sua vez ao construir conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil ofereceria um importante instrumento para o aprimoramento da prática pedagógica. Foi um autores do plano Langevin-Wallon um ambicioso projeto de reforma de ensino e faleceu em 1962.

O projeto teórico da teoria do Walllon na sua vertente de psicólogo é psicogênese da pessoa. Dedicou-se à Psicogênese da Pessoa. Estudar a gênese dos processos que constituem o psiquismo humano. Por meio do estudo da criança ele concentrou seus estudos nas fases iniciais da infância, a intenção é compreender como vai se embricando se articulando a complexidade de campos e de fatores que constituem o psiquismo humano tendo ressalvado que ele tem limite que é estudar o campo da consciência. Nessa tentativa de olhar a criança de um modo integrado ele vai delinear quatro campos funcionais: movimento, emoções, a inteligência e a formação do “eu” como pessoa.

movimento seria um dos primeiros campos funcionais a se desenvolver, e que serviria de base para o desenvolvimento dos demais.

Os movimentos, enquanto atividades cognitivas, podem estar em duas categorias: movimentos instrumentais e movimentos expressivos. Os movimentos instrumentais são ações executadas para alcançar um objetivo imediato e, em si, não diretamente relacionado com outro indivíduo; este seria o caso de ações como andar, pegar objetos, mastigar etc. Já os movimentos expressivos têm uma função comunicativa intrínseca, estando usualmente associados a outros indivíduos ou sendo usados para uma estruturação do pensamento do próprio movimentador. Falar, gesticular, sorrir seriam exemplos de movimentos expressivos.

Wallon dá especial ênfase ao movimento como campo funcional porque acredita que o movimento tem grande importância na atividade de estruturação do pensamento no período anterior à aquisição da linguagem.

afetividade, por sua vez, seria a primeira forma de interação com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento.

À medida que o movimento proporciona experiências à criança, ela vai respondendo através de emoções, diferenciando-se, para si mesma, do ambiente. A afetividade é o elemento mediador das relações sociais primordial, portanto, dado que separa a criança do ambiente.

As emoções são, também, a base do desenvolvimento do terceiro campo funcional, a inteligência.

Na obra de Wallon, inteligência tem um significado bem específico, estando diretamente relacionada com duas importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. À medida que a criança vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, o raciocínio simbólico e o poder de abstração vão sendo desenvolvidos. Ao mesmo tempo, e relacionadamente, as habilidades linguísticas vão surgindo no indivíduo, potencializando sua capacidade de abstração.

Wallon dá o nome de pessoa ao campo funcional que coordena os demais. Seria este também o campo funcional responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu.

As relações entre estes três campos funcionais não são harmônicas, de modo que constantemente surgem conflitos entre eles. A pessoa, como campo funcional, cumpre um papel integrador importante, mas não absoluto. A cognição desenvolve-se de maneira dialética, em um constante processo de teseantítese e síntese entre os campos funcionais.

A teoria de Wallon também propõe uma série de estágios do desenvolvimento:

Estágio impulsivo-emocional

Do nascimento até aproximadamente o primeiro ano de vida, a criança passa por uma fase denominada estágio impulsivo-emocional. É um estágio predominantemente afetivo, onde as emoções são o principal instrumento de interação com o meio. A relação com o ambiente desenvolve, na criança, sentimentos intracenptivos e fatores afetivos.

O movimento, como campo funcional, ainda não está desenvolvido, a criança não possui perícia motora. Os movimentos infantis são um tanto quanto desorientados, mas a contínua resposta do ambiente ao movimento infantil permite que a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas. Essa é fase do desenvolvimento psicomotor que possui maior participação de elementos do arco-reflexos.

Estágio sensório-motor e projetivo

Dos três meses de idade até aproximadamente o terceiro ano de vida, a criança passa pelo estágio sensório-motor e projetivo. É uma fase onde a inteligência predomina e o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse período, é tradicionalmente particionada entre inteligência prática, obtida pela interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência discursiva, adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Os pensamentos, nesse estágio, muito comumente se projetam em atos motores.

Estágio categorial

O estágio do personalismo é sucedido por um período de acentuada predominância da inteligência sobre as emoções. Neste estágio, usualmente chamado estágio categorial, a criança começa a desenvolver as capacidades de memória e atenção voluntárias. Este estágio geralmente manifesta-se entre os seis e os onze anos de idade.

É neste estágio que se formam as categorias mentais: conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles. Nesta fase, por exemplo, uma criança que antes associasse o conceito de "triângulo" a triângulos equiláteros (porque este tenha sido apresentado como um exemplo de triângulo) adquirirá a habilidade de compreender que mesmo "formatos" diferentes—triângulos isósceles e escalenos—também são abarcados pelo conceito de "triângulo".

No estágio categorial, o poder de abstração da mente da criança é consideravelmente amplificado. Provavelmente por isto mesmo, é nesse estágio que o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva..

Esse jeito de pensar, que por vezes parece não ter lógica para os mais crescidos, é chamado de pensamento sincrético e é natural da infância. Sincretizar significa reunir, e é isso que os pequenos fazem - ao tentar explicar as coisas, eles misturam realidade e fantasia sem distinção.

Estágio do personalismo

Ao estágio sensório-motor e projetivo sucede um momento com predominância afetiva sobre o indivíduo: o estágio do personalismo. Este estágio, que se estende aproximadamente dos três aos seis anos de idade, é um período crucial para a formação da personalidade do indivíduo e da auto-consciência. Uma consequência do caráter auto-afirmativo deste estágio é a crise negativista: a criança opõe-se sistematicamente ao adulto. Por outro lado, também se verifica uma fase de imitação motora e social.

Estágio da adolescência

Mais ou menos a partir dos onze, doze anos, a criança começa a passar pelas transformações físicas e psicológicas da adolescência. Este é um estágio caracterizadamente afetivo, onde o indivíduo passa por uma série de conflitos internos e externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de auto-afirmação e o desenvolvimento da sexualidade.

Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência. Em verdade, para Wallon o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. O indivíduo, ante algo em relação ao qual tem imperícia, sofre manifestações afetivas que levarão a um processo de adaptação. O resultado será a aquisição de perícia pelo indivíduo. O processo dialético de desenvolvimento jamais se encerra.

 

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